Tiroide e fertilidade
- 24-07-2013
Em ambos os sexos as hormonas tiroideias representam um papel permissivo importante na função reprodutiva.
O ciclo ovárico normal da mulher – desenvolvimento folicular, maturação e ovulação, e no sexo oposto o processo de espermatogénese testicular, estão dependentes de uma função tiroideia normal, interferindo esta na síntese e metabolismo das hormonas esteroides e da globulina transportadora destas (SHBG – Steroid Hormone Binding Globulin).
A patologia da tiroide é cerca de oito vezes mais frequente no sexo feminino que no masculino e a disfunção tiroideia afeta mais a fertilidade feminina.
No hipotiroidismo na mulher verifica-se um decréscimo nas hormonas esteroides totais, enquanto as suas frações livres estão elevadas por redução da atividade da SHBG. Há uma redução da resposta da LH à GnRH (Gonadotrophin Release Hormone) e elevação da Prolactina sérica.
Isto traduz-se na mulher em ciclos menstruais irregulares – oligomenorreia, amenorreia, polimenorreia ou menorragia.
O hipotiroidismo mais severo pode originar redução da libido e ciclos anovulatórios. Contudo, mesmo o hipotiroidismo subclínico se pode associar a redução da fertilidade quando a fase luteal é inadequada.
Se a mulher com hipotiroidismo consegue engravidar ou se esta patologia está mal controlada durante a gravidez, há um maior risco de aborto do primeiro trimestre, hipertensão gestacional, hemorragia pós-parto, prematuridade, baixo peso do recém-nascido e alterações do desenvolvimento neurológico do filho, nomeadamente défices cognitivos.
Um caso particular é a doença autoimune eutiroideia, em que, apesar da função tiroideia ser normal, os anticorpos antitiroideus estão elevados, representando um aumento do risco de aborto, menor sucesso para a fertilização in-vitro, parto prematuro, morte perinatal e tiroidite pós-parto.
Não se conhece ao certo a razão para estas complicações, podendo resultar de um ambiente imunológico desfavorável ou de uma menor reserva de hormonas da tiroide.
O hipertiroidismo provoca aumento da SHBG e dos esteroides totais, menor metabolismo do estradiol e maior síntese de estradiol e estrona e, aparentemente, maior resposta das gonadotrofinas à GnRH com maior secreção de LH (embora os pulsos de FSH e LH persistam).
Até 60% das mulheres com hipertiroidismo têm alterações dos ciclos menstruais e a tireotoxicose está associada a fertilidade reduzida.
Durante a gravidez, o hipertiroidismo condiciona uma maior taxa de complicações: parto pré-termo, ACIU, baixo peso ao nascer, morte in útero, pré-eclampsia, insuficiência cardíaca na mãe e no feto, bócio fetal e hiper (se défice no tratamento da tireotoxicose materna) ou hipotiroidismo fetal (se sobretratamento da mãe com antitiroideus de síntese).
Apesar do rastreio universal da disfunção tiroideia na pré-conceção não ser recomendado por diversas sociedades científicas internacionais, este deve ser efetuado em mulheres com história anterior ou familiar de patologia tiroideia ou doenças autoimunes.
É obrigatória a determinação da função tiroideia na mulher com irregularidades menstruais, dificuldade em engravidar ou abortos recorrentes, devendo ser realizado o tratamento adequado, caso surja uma patologia tiroideia.
Há menos estudos relativos à função da tiroide na fertilidade masculina. Sabe-se que no sexo masculino a disfunção tiroideia pode originar disfunção sexual, com diminuição da libido ou impotência sexual.
Todos os estudos relativos às consequências do hipo e hipertiroidismo são concordantes ao afirmar que uma função tiroideia anormal é prejudicial para a espermatogénese.
A ação das hormonas da tiroide é fundamental para o desenvolvimento pubertário e testicular. É agora aceite que o hipotiroidismo congénito ou numa idade precoce pode afetar negativamente a função reprodutora do homem adulto.
Por último, foram identificados recetores das hormonas da tiroide nas células de Sertoli. Tendo estas células um importante papel na espermatogénese (permitem a nutrição das células germinativas até à formação do esperma), poderá ser esta uma via de influência da tiroide na fertilidade masculina.
Em suma, alterações da função da tiroide têm repercussão significativa na fertilidade da mulher e do homem.
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