Exercício físico – quando e como?
- 16-07-2014
O exercício físico é um dos componentes fundamentais na gestão da diabetes. Em ambos os tipos de diabetes, o exercício pode melhorar a sensibilidade à insulina e a utilização da glicose, diminuindo assim os níveis de glicose sanguínea. Adicionalmente, o exercício tem uma contribuição concomitante na redução de diversos fatores de risco de doenças cardiovasculares.
Contudo, apesar dos elevados benefícios do exercício para os pacientes com diabetes, existem algumas potenciais complicações, particularmente a hipoglicemia, dos quais quer o paciente, quer quem o acompanha devem estar perfeitamente conscientes.
O exercício apresenta o mesmo efeito na glicose sanguínea que a insulina; reduz a glicose sanguínea, tornando o paciente mais sensível à insulina.
Assim, antes de iniciar um programa de exercícios, o paciente deve consultar o seu médico para efetuar uma avaliação do seu controlo glicémico, e monitorizar qualquer complicação de saúde que possa ser agravada pelo exercício.
Quando inicia o programa, e após uma avaliação inicial, o paciente deve fazer um registo dos seus valores de glicose antes, durante e após o exercício, permitindo desta forma evitar eventuais situações de hipoglicemia. Fazer um registo destes dados permite ao médico de família ajustar a medicação e ao profissional do exercício adaptar a intensidade, tipo e duração do mesmo.
Com valores de glicose inferiores a 70 mg/dl, o exercício deve ser evitado, devido ao risco de hipoglicemia. Não deverá igualmente exercitar-se se os valores forem superiores a 300 mg/dl ou 240 mg/dl com produção de corpos cetónicos.
Para evitar descidas inesperadas de glicose durante o exercício, o paciente deve sempre fazer-se acompanhar (de alguém) com um suplemento de hidratos de carbono, tais como 15 gramas de comprimidos de glicose ou pacotes de açúcar, uma pequena caixa com uvas passas, pacote de sumo, etc.; evitando desta forma uma situação de hipoglicemia. Deverá verificar novamente após cerca de 15 minutos os valores de glicose e se inferiores a 70mg/dl, repetir o processo.
Se o exercício se mantiver por períodos superiores a 30 minutos ou for mais intenso, deverá sempre ingerir uma porção de hidratos de carbono após 20-30 minutos, com uma precaução adicional após este programa de exercício devido à possibilidade de descida contínua de glicose após o mesmo; particular atenção quando for efetuado à noite ou final do dia, pois a hipoglicemia pode ocorrer durante o sono.
O programa de exercício deverá ser gradual, iniciando a cerca de 20 minutos, constituído por 5 minutos de aquecimento inicial, 10 minutos de caminhada (ou bicicleta, ou hidroginástica) e 5 minutos para retorno à calma. Posteriormente o objetivo será alcançar os 30-40 minutos, mantendo a parte inicial e final do programa.
A intensidade deverá ser moderada, inicialmente a 40%-50% do VO2 reserva ou FCreserva, ou seja, permitindo um aumento da transpiração e da frequência cardíaca, contudo permitindo a manutenção da conversa (não cantar!) com um parceiro. Quando a conversação não é possível, sendo necessária uma pausa para manter esse diálogo, a intensidade do exercício já será mais intensa.
As recomendações mais recentes sugerem 30 minutos de exercício moderado em 5 dias da semana, ou 3x20 minutos se for mais intenso. Exercícios de flexibilidade (em cada uma das sessões) e de resistência muscular são também sugeridos. Estes últimos devem ser efetuados 2-3 vezes por semana, com 8-10 exercícios, com cargas que permitam efetuar de 10-15 repetições por exercício.
Estabelecer objetivos iniciais que sejam realistas facilita o processo de iniciação ao exercício. O uso de monitores de atividade física é um excelente coadjuvante na manutenção de um programa de exercício.
Por José Carlos Ribeiro, Centro de Investigação em Atividade Física Saúde e Lazer (CIAFEL), Faculdade de Desporto - Universidade do Porto
Artigo original publicado no Jornal do Congresso das 6as Jornadas Nortenhas de Diabetologia Prática em Medicina Familiar
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